Como é pedalar com apenas 9km de ciclovias em Santa Maria

Como é pedalar com apenas 9km de ciclovias em Santa Maria

Foto: Beto Albert (Diário)

​Além da reportagem, o trajeto foi feito por outros quatro especialistas que mostraram os principais problemas que eles enfrentam pelas ruas e avenidas de Santa Maria

Santa Maria tem apenas nove quilômetros de ciclovias para um município de mais de 280 mil habitantes. Mas como é, na prática, pedalar pela ruas santa-marienses? Para entender os desafios dos ciclistas, a reportagem percorreu 15 quilômetros de bicicleta, passando por avenidas movimentadas e por uma rodovia que corta a cidade até chegar ao campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A experiência revelou problemas como falta de estrutura, trechos perigosos e desafios diários enfrentados por quem escolhe a bicicleta como meio de transporte ou apenas por lazer e saúde. Além disso, o Diário visitou outros pontos onde existem faixas destinadas aos ciclistas para saber como estão as condições. 

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O percurso e os desafios

​Além da reportagem, o trajeto foi feito por outros quatro especialistas que mostraram os principais problemas que eles enfrentam pelas ruas e avenidas de Santa Maria Foto: Beto Albert (Diário)

O trajeto começou no Trevo da Uglione e seguiu pelas principais vias urbanas: avenidas Hélvio Basso, Medianeira e Dores, além da Faixa Velha de Camobi (ERS-509), até chegar a UFSM. Sem ciclovias (pista de uso exclusivo de bicicletas e outros ciclos) ou ciclofaixas (Identificada a partir da pintura no chão), a alternativa foi dividir espaço com carros, motos e ônibus, enfrentando acostamentos precários e sinalização insuficiente quando havia espaços com ciclovia. 


O ponto de partida foi a Avenida Hélvio Basso, e o principal desafio foi a divisão do espaço com outras pessoas que correm ou utilizam o espaço para fazer caminhada. A pista está em boas condições, mas falta sinalização indicando para qual seria o uso. O local possui 2,4 km de mão dupla. 


– Agora (17h22min), está tranquilo para pedalar, mas, no fim da tarde, muita gente vem caminhar. Essas pessoas usam a ciclovia para caminhar, e aí é uma disputa entre bicicleta e pessoas nesse espaço  – relata Jânio Manoel, 34 anos, que pratica o ciclismo há, pelo menos, 14 anos e já foi diretor da Associação Santa Maria Ciclismo (ASMC). 


Para o militar da reserva Vilmar Krentkowski, que, aos 58 anos, pedala há mais de três anos, é difícil utilizar o espaço.


– Eu tentei usar duas vezes a bicicleta e não tem jeito de andar aqui. Deixei de usar por conta dos pedestres que não respeitam. E não tem fiscalização e pintura para orientação. Devia ter mais placas nos postes – opina.

A partir deste ponto, não existe mais ciclovia e o desafio foi o fluxo intenso de veículos somado aos obstáculos na lateral da via Foto: Beto Albert (Diário)

O próximo destino foi subir a Avenida Medianeira, onde os principais percalços foram o trânsito intenso, lixeiras, diversas ondulações na via e bueiros fundos que podem causar queda dos ciclistas. O ponto positivo foi para os motoristas. Apesar de, ao final de tarde, o fluxo ser intenso, havia uma distância segura, e os condutores desviavam com segurança. Essa situação se estendeu até a Avenida Nossa Senhora das Dores.  


Já ao chegar na ERS-509 (Faixa Velha), uma das principais ligações entre a cidade e o campus da UFSM, os ciclistas encontraram uma condição mais favorável e com menos adversidades. O trecho conta com um acostamento mais amplo e, mesmo com o tráfego intenso, não representou grandes riscos.


No entanto, o trecho do Trevo do Castelinho é de alerta máximo. Segundo especialistas, esse é o ponto mais perigoso do trajeto. A rotatória tem visibilidade reduzida e um grande movimento de veículos, exigindo atenção redobrada dos ciclistas, que precisam sinalizar constantemente suas intenções de deslocamento. No local, foram registrados alguns acidentes fatais – o mais recente vitimou a ciclista Ana Berleze, de 63 anos.


– Esse viaduto não tem largura em cima para passar de bicicleta. Esse é um dos pontos críticos da cidade. Como Santa Maria não tem ciclovia, o ciclista tem que andar junto com os carros. E os carros não respeitam, porque eles também são pressionados pelas motos, e eles pressionam a direita, que é onde o ciclista passaria – relata Jânio.


Antes de chegar ao campus, na Avenida Roraima, a realidade muda novamente. O espaço, de administração federal, é disputado com diversas pessoas que utilizam a faixa exclusiva para o ciclismo para atividades físicas ou até mesmo passear com seus animais, como é possível visualizar na imagem abaixo:

Foto: Beto Albert (Diário)

No acesso ao campus da UFSM, o cenário é muito propício para quem circula de bicicleta, com sinalizações e boas condições da pista. O espaço é compartilhado entre pedestres e ciclistas, mas não oferece nenhuma obstrução no percurso, que terminou no Centro de Educação Física e Desporto (CEFD), já dentro do campus da universidade. Ao longo dos 15 km, foi o local que mais contou com ciclistas e o mais seguro para o grupo. As faixas dentro do campus é de administração da UFSM, portanto, não é de competência do município.


A visão de quem pedala diariamente

O Diário acompanhou os ciclistas ao longo dos 15 km do percurso e trouxe a perspectiva de quatro atletas profissionais. Além de Jânio e Vilmar, já mencionados, Vandir Freitas, conhecido como "Didi", 57 anos, e Rogério Azevedo, 58, treinador tático da Brigada Militar, destacaram a importância das ciclovias e do respeito no trânsito. Habituados a percorrer diversas ruas e avenidas da cidade, eles reforçam um pedido em coro: mais infraestrutura para ciclistas, maior atenção aos pedestres e, acima de tudo, mais empatia entre os motoristas.


"Relação de cuidado entre ciclista e pedestre" 

–  Eu acho que o maior desafio é conseguir ter uma percepção de toda a via. Perceber essa relação que tem com o motorista e esse cuidado para ti e com o pedestre. E alguns desafios como a sujeira dos acostamentos, alguns buracos e os locais que geralmente não tem a via do ciclista – relata Jânio.


Para metalúrgico aposentado Vandir Machado, uma das dificuldades é dividir o espaço com o trânsito e os dejetos que ficam nas laterais das vias

– Os motoristas deixam pouco espaço para o ciclista passar. Tem uns que deixam maior, outros deixam menor. E no acostamento, tem partes muito sujas. Se o ciclista vem mais rápido, derrapa ali. Esse era o meu medo – relata. 


Os desafios para o tenente da reserva da Brigada Militar Rogério Azevedo é a empatia no trânsito: 

– O que é a empatia? Ou seja, eu me coloco no lugar do condutor e o condutor se coloca no meu lugar. Então, para o trânsito ser bem melhor e bem mais ativo, os desafios são inúmeros. A gente pode listar, mas desenvolvendo a empatia, cada um respeitando e fazendo a sua parte, o trânsito vai ficar melhor na cidade – sugere.


"O grande problema para nós, por não ter pista de ciclismo, é o desafio do trânsito"

Por fim, Vilmar considera o trânsito como um desafio maior, já que a cidade não conta com muitas ciclovias se comparada a cidades da região, que contam com apoio e pistas para os ciclistas. 

– Se pegar cidades ao redor, as pequenas, elas têm muitas pistas de ciclismo e apoio para ciclistas. Às vezes, até água gelada, banheiro... E Santa Maria não tem nada. O grande problema, para nós, por não ter pista de ciclismo, é o desafio do trânsito. Como o colega falou, falta empatia. As pessoas não respeitam o ciclista, e tem ciclista que também anda errado – finaliza. 


Companhia especial

Ao final do percurso, conhecemos o mascote que acompanha Rogério nas pedaladas: Matilda. Ele explica que, em trajetórias longas e por diferentes locais, é comum que os ciclistas façam pausas para tirar fotos ou conversar. São nesses momentos que a galinha ganha protagonismo:

Em um momento de descontração Rogério contou mais sobre a história de uma companheira de pedaladaFoto: Beto Albert (Diário)

– Ela surgiu há uns seis meses. A gente tinha uma ideia de que o pessoal parava muito para conversar, tirar foto, coisa e tal... Aí, quando começo a parar e tirar foto, eu começo a apertar ela. Se a Matilda entra em jogo, é sinal que é para ir embora. Essa é uma das técnicas de fazer o pessoal andar. “Bah, não aguento mais”, então toca a Matilda – conta Rogério. 

Entenda como funciona a lesgislação e as condições das vias onde existe ciclovia

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